domingo, 30 de junho de 2013

O Homem de Aço


“O Homem de Aço” – “The Man of Steel” Estados Unidos,2013
Direção:Zack Snyder

Superman, o mais “sexy” dos personagens de quadrinhos (e também o mais velho dos super-herois, criado em 1938 por Joe Shuster e Jerry Siegel) volta às telas de cinema em 3D, num filme que é uma maratona, também para o espectador. Explico. Talvez você fique atordoado com as cenas de batalha entre o exército americano, com seus aviões e helicópteros e os guerreiros do planeta Krypton e suas naves/polvo.
Os seus ouvidos vão registrar o barulho de prédios caindo por cima das pessoas, num cenário inspirado nas imagens de um 9/11 de maior alcance ainda, tudo embaçado pela fumaça e o rugir de rasantes de helicópteros e quedas de detritos de toda a espécie.
Mais ainda, vão ver um espetacular duelo final entre dois super-homens, um balé destruidor e mortal.
É um filme trepidante de ação e guerra. O furor e a raiva tem destaque como forças motivadoras, lado a lado com a confiança e a gratidão.
Todo mundo se lembra de Marlon Brando como o pai do bebê que viria a ser o Superman. Foram cenas emocionantes do filme de Richard Donner de 1978. Agora é Russell Crowe que assume esse papel e o filme demora-se mais no planeta Krypton, fadado à destruição.
Alí, o processo de procriação foi dominado por cientistas que programaram os novos kryptonianos, que não nascem de um pai e uma mãe mas são frutos de árvores de luz num imenso útero artificial. Além da destruição total da natureza no planeta, seus habitantes são desprovidos da criatividade que outrora os levaram a povoar novos mundos que os abrigariam quando o planeta explodisse, destino certo.
É então que Jor-El (Russell Crowe) e Lady Lara resolvem procriar como se fazia antigamente no planeta deles e o menino Kal- El nasce. Ele não é um ser programado mas espontâneo. Vai ser enviado à Terra, como último representante de seu planeta, com a missão de guiar os terráqueos para um destino melhor.
Adotado por Jonathan Kent (Kevin Kostner) e Diane Lane que faz a mãe, o menino Clark Kent é ensinado a focalizar sua atenção para que possa usar de seus super poderes com objetividade.
É muito importante o papel dos pais adotivos nessa versão porque humanizam o garoto, o que é a base para sua empatia com os seres humanos.
E é em Smallville, lugar de sua casa e onde foi criado, que o nosso super-heroi vai se tornar o Superman, com características de personalidade muito diferentes do grande vilão Zod (Michael Shannon), que escapou da destruição do planeta Krypton porque estava exilado mas é obcecado em eliminar a humanidade da Terra para criar aqui um novo Krypton.
Propositalmente, o diretor Zack Snyder criou um Superman diferente de todos os outros. Sua roupa adere ao corpo musculoso e ágil, a capa vermelha tem um jeito de manto real, o famoso “S” está recriado e os acordes tão conhecidos, que sempre o acompanhavam, também não são os mesmos.
E Henry Carvill (da série da TV “Os Tudor”) que personifica o novo Superman, é alto, moreno, um corpo malhado e bem proporcionado, olhos azuis intensos e é bonito, muito bonito. Movimenta-se como um felino e voa como um míssil.
Até Lois Lane (Amy Adams) mudou bastante. É agora uma jornalista mais intrépida e uma mulher super sedutora que não tem medo de nada e olha o Superman de igual para igual, com muito desejo.
Produzido pelo famoso Christopher Nolan (o diretor de Batman) e com roteiro de David S. Goyer (também de todos os Batman), o filme tem trilha sonora de Hans Zimmer, criativa e surpreendente e fotografia de Amir Mokri, que acompanha o personagem, realçando os tons escuros de Krypton e as tonalidades solares da Terra.
Se você é fã, vai gostar de ver algumas cenas que lembram os outros filmes desse super-heroi, pai de todos os outros.
Se você não é, arrisque. Você pode gostar do que vai ver.


quinta-feira, 27 de junho de 2013

Chamada a Cobrar


“Chamada a Cobrar” Brasil, 2012
Direção: Anna Muylaert

Quem passou por isso sabe como é. Quem não passou, ouviu alguém contar do sofrimento com esse golpe perverso que é o falso sequestro.
Já foi até capa de revista nacional.
Alguém, mãe ou pai, escuta um homem com disposição violenta, voz de marginal, dizer que estão com uma pessoa da família. Geralmente filho ou filha. E a mãe ou quem atendeu ao telefone inocentemente, angustiada com o susto que levou, se confunde. Na voz do comparsa, que imita a voz de uma pessoa desesperada, reconhece erradamente a filha ou filho e entrega o nome ao criminoso. E aí, é tudo que ele queria para extorquir o que quiser.
Anna Muylaert retrata fielmente essa situação desesperadora em seu filme “Chamada a Cobrar”, que originalmente, era um média metragem, com o nome de “Para aceitá-la continue na linha”, que passou na TV Cultura.
Bete Dorgami, atriz talentosa, faz Clarinha, uma senhora de meia idade, classe média alta, que mora sózinha com seu cachorro e a empregada de anos de casa.
Ela tem três filhas ocupadas, distantes quase o tempo todo, com seus afazeres preenchendo o dia. Não sobra muita coisa para a mãe. Mas, quando a empregada consegue, finalmente, localizá-las, dão-se conta do desaparecimento dela e são ajudadas por um delegado de policia que conta a elas sobre o golpe do falso sequestro e ensina como devem se portar para ajudar a mãe.
O filme se passa quase o tempo todo dentro do carro de Clarinha, que, com o celular no ouvido, segue as instruções do falso sequestrador ao pé da letra. Ela faz tudo que ele manda fazer.
Seria ela é uma pessoa inocente, distante da realidade, meio gagá? Clarinha pode até dar essa impressão, agora que esse golpe é conhecido e todo mundo já sabe como funciona. Mas a intenção da diretora parece que não é essa. Porque quase qualquer um poderia ter caído nesse golpe, naquela época. Bastaria que amasse ou se preocupasse com o destino do filho ou filha, longe de casa, que se pensa que está na situação perigosa que o marginal que fala ao celular faz crer.
Acredite quem quiser, mas, infelizmente, esse golpe já foi adotado em nova versão, não por marginais falando português errado, mas por jovens que se fazem passar por familiares de avós, tias, parentes em geral.
Essas senhoras abordadas por telefone, bem intencionadas, acreditam na história que é contada com detalhes por supostos parentes desesperados e fazem depósitos na conta do jovem que passa por uma aflição, naturalmente inventada. E que pedem sigilo para que a mãe deles não fique nervosa.
“- Sabe como é, né, vó? A mãe é exagerada. Melhor eu contar depois com calma para ela. E eu vou te devolver esse dinheiro emprestado, claro.”
No Brasil, já não é só a classe mais necessitada que é a autora de golpes para arrancar dinheiro das Clarinhas ricas. Infelizmente aqui, a juventude “esperta” adotou o modelo que se mostrou compensador e saqueia a própria família ou a do amigo. Todo cuidado é pouco.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Além da Escuridão - Star Trek


“Além da Escuridão – Star Trek”- “Star Trek Into the Darkness”, Estados Unidos 2013
Direção: J.J. Abrams

Para quem só tinha visto Star Trek na TV dos anos 60, esse “Além da Escuridão – Star Trek” é uma surpresa e tanto.
Tudo já começa em ritmo vertiginoso, com a trilha sonora tonitruante de Michael Giacchino e seres brancos/giz, vestidos de panos amarelos, correndo atrás do comandante da Enterprise, numa floresta vermelha, antes mesmo dos créditos iniciais do filme.
E, sem que se possa imaginar onde estamos, um vulcão alarmante parece que vai decretar o fim daquele mundo. Mas aí, o bom e velho Spock (Zachary Quinto) está dentro do vulcão e, claro, consegue acalmá-lo no último segundo, com uma máquina de altíssima tecnologia e eficiência.
E como ele vai conseguir sair dalí? Perguntamos nós, aflitos.
E é nesse momento que reconhecemos, lá no fundo de nossa memória de criança, aquilo que mais atraia na série em preto e branco da televisão americana: o espírito de equipe, a solidariedade entre os membros da tripulação da Enterprise, de diferentes raças e até mesmo espécies de outros planetas.
A amizade do capitão Kirk (agora o bonitão Chris Pine) pelo alienígena de orelhas pontudas e franjinha, vai faze-lo quebrar outra vez as regras rígidas da Federação e por isso vai perder sua nave.
Mas há reviravoltas e, quando a própria Federação tem que enfrentar a ameaça de atos terroristas do terrível vilão super-homem John Harrison (o ótimo Benedict Cumberbatch), nosso comandante volta à ativa e tudo terá proporções que nós, crianças dos anos 60, nem ousávamos imaginar.
E a conhecida solidariedade e amizade entre os tripulantes da nave vai brilhar mais uma vez. O piloto japonês Sulu (John Cho), a bela Uhura (Zoe Saldana), especialista em línguas, McCoy (Karl Urban), o médico humanista, Chekov (Anton Yelchin), o russo que entende tudo sobre a nave e Scotty (Simon Pegg), o brilhante engenheiro escocês, vão passar por poucas e boas, numa Enterprise muito maior, onde os vemos correndo e se socorrendo uns aos outros, nas escadas e pontes suspensas quando falha a estabilidade da nave.
O filme é emocionante, divertido, com um roteiro eficiente e uma produção de arte com boa imaginação. Ainda bem que não mexeram muito no visual dos uniformes da Enterprise. Fortalece o elo afetivo com os personagens que conhecemos desde criança.
A mocinha Carol (Alice Eve), que é nova na história, apesar de uma cena breve em lingerie, não empolga, mas é bonitinha e tudo indica que vai namorar o capitão Kirk.
Bem, tenho que acrescentar que assisti ao filme num cinema que é um aliado importante nas emoções do novo Star Trek. O Cinépolis Iguatemi JK em 4D faz a gente participar das aventuras quase como se estivéssemos na tela. Ouvem-se gritos e risadas e há bons sustos. Recomendo.


domingo, 23 de junho de 2013

Adeus Minha Rainha





“Adeus Minha Rainha”- “Les Adieux à La Reine”, França/ Espanha 2012
Direção: Benoit Jacquot

Quatro dias em Versailles, 14 a 17 de julho de 1789. São horas de temores, desenganos, traições, despedidas.
Corredores sombrios e sussurros amedrontados, iluminados à luz de velas, nas noites que envolveram a nobreza da França em presságios funestos.
“Adeus Minha Rainha” tem clima de pesadelo.
Os acontecimentos que mudaram a história da França e influenciaram o destino de outros países pelo mundo afora, aqui são vistos através dos olhos da leitora de Maria Antonieta, a rainha a quem Sidonie Laborde (a bela e excelente Léa Seydoux) ama e obedece.
O ângulo escolhido para narrar os primeiros dias da insurreição que acabou com a monarquia francesa e instalou um regime sanguinário, foi buscado no romance de Chantal Thomas. A ficção ajuda a penetrar na intimidade daqueles que vão perder seu poder mas que ainda não sabem.
Há um cenário de pompa envolto em sombras de medo. A famosa Galeria dos Espelhos de Versailles reflete imagens da realeza com uma beleza manchada pela tristeza do fim.
A cena em que Maria Antonieta (a atriz alemã Diane Kruger, belíssima) recebe em seus aposentos a amiga e amante, a duquesa Gabrielle de Polignac (a morena sedutora, Virginie Ledoyen), vestida de seda verde absinto, bordada com flores de ouro e plumas na cabeça, é bela e patética. A rainha destronada perde tudo, inclusive seu amor equivocado, uma aproveitadora que se enriquece às custas de seduzi-la e que foge disfarçada, com medo de ser assassinada.
Maria Antonieta perdeu também a esperança e a juventude, que vê em Gabrielle e Sidonie. Seu semblante aristocrático e arrogante não mostra mais o brilho que tinha. Ela, que queria fugir para Metz, tem que obedecer ao rei, que escolhe ficar, por sua honra e posição:
“- O povo não quer apenas pão, eles querem o poder. Como pode alguém ambicionar o poder? Para mim foi sempre uma maldição sob o manto de arminho”, diz Luis XVI à rainha.
E ele parte para Paris, deixando a família em Versailles. O resto é trágico, como todos sabem.
Benoit Jaquot, o diretor e co-roteirista, privilegia o “close” para passar ao espectador uma experiência nova, uma identificação com esses personagens. Por trás da revolta vencedora, o rosto dos derrotados, daqueles que são objeto de ódio da massa popular.
A fotografia de Romain Winding tem tons dourados no começo e caminha para cores frias e sombrias, azuis e cinzas desbotados, conforme deterioram para  o desespero os acontecimentos no palácio.
Um filme original e belo, que aborda a Revolução Francesa através dos sentimentos e conflitos dos que viveram naqueles últimos dias em Versailles.


segunda-feira, 17 de junho de 2013

Segredos de Sangue


“Segredos de Sangue” – “Stoker”, Estados Unidos/Inglaterra, 2013
Direção: Park Chan-wook

Quem será essa moça à beira da estrada, que murmura em “off” coisas sobre si mesma? Ela diz que usa os sapatos da mãe, o cinto do tio, algo do pai e que, assim como a flor não escolhe sua cor, ninguém é responsável pelo que pode acontecer.
Mas parece que voltamos no tempo e aquela moça é  uma garota de longos cabelos negros que, frente a uma estátua de bronze, sentada nas raízes de uma grande árvore, duplica a pose da estátua e examina os pés. A câmara se aproxima como um olho e vemos que ela fura uma bolha com uma agulha.
Esse é o primeiro dos pequenos detalhes incômodos com que o diretor sul-coreano Park Chan-wook monta um quebra-cabeças em torno a India Stoker, a garota que é o centro do filme, vivida por Mia Wasikowska, 23 anos e ótima no papel da mocinha assustada e excitada, que não gosta de ser tocada e que não sorri.
Na floresta que cerca a bela casa, ela sobe pelos grandes troncos e parece íntima daquele cenário. No jardim mais próximo da casa, grandes pedras esculpidas como bolas, fazem um arranjo em que a mocinha fica perecendo uma ninfa liliputiana.
Corte para o cemitério. A garota estranha está de luto, ao lado da mãe (Nicole Kidman, bela e sedutora aos 45 anos), ouvindo o elogio fúnebre ao pai, morto num acidente não explicado. Ao longe, a silhueta de um homem (Matthew Goode) é uma presença inquietante.
De volta à casa, India toca piano e novamente o olho da câmara vasculha e encontra algo que se arrasta pelo tapete. Uma aranha sobe pelas meias que vestem as pernas de India, nos pés sapatos bicolores.
Na cozinha com a avó, ela pergunta sobre a chave que encontrou na caixa do seu presente de aniversário conhecido, os sapatos bicolores. Todos os anos de sua vida ela ganhara a mesma caixa com o laço de seda amarela e os sapatos.
“- Essa chave abre qual fechadura? Vc sabe?”
E o desvelar do segredo vai se desenrolando na tela, tudo muito bonito e elegante, com um toque de perversão crescente.
No dia dos seus 18 anos, o pai que India amava morrera e ela se lembrava dele dizendo:
“- Às vêzes precisamos fazer uma coisa ruim para se impedir de fazer uma coisa pior.”
Levava India para caçar pássaros e os empalhava.
O diretor de “Old Boy”, primeiro filme de sua trilogia da vingança, estreia nos Estados Unidos com “Stoker” que tem toques de Hitchcock e lembra seus “Sombra de uma Dúvida”(1943) e “Psicose”(1960).
Mas o tempero coreano é mais selvagem e sanguinolento. E o triângulo India, sua mãe Evie e tio Charlie vão nos envolver com os segredos escuros do passado da família Stoker.
Quem sai aos seus não degenera, diz o ditado popular. Confiram em “Segredos de Sangue” como isso vai acontecer, no excelente thriller assinado pelo genial diretor sul-coreano Park Chan-wook.

sábado, 15 de junho de 2013

Antes da Meia Noite


“Antes da Meia Noite”- “Before Midnight”, Estados Unidos, 2013
Direção: Richard Linklater

O amor nunca vem para ficar, ao contrário do que se quer acreditar.
Para um casal ficar junto é preciso trabalhar, lutar, ceder, ter paciência, ser criativo e escolher amar novamente aquela pessoa, muitas e muitas vezes.
Vemos isso claramente na trilogia sobre o amor que agora se fecha com o filme “Antes da Meia Noite”, que tem seu roteiro escrito pelos próprios atores, Julie Delpy, 43 e Ethan Hawke, 42 e o diretor Linklater, 52 anos.
No primeiro filme, “Antes do Amanhecer” (1995), a francesa Céline e o americano Jesse, ambos com 20 anos, se conhecem quando viajam num trem pela Europa. Conversam, conversam pelas ruas de Viena, apaixonam-se mas, no fim, cada um volta para a própria vida.
No segundo, “Antes do Por do Sol” (2004), há um reencontro em Paris, onde ele lança seu livro, que conta a aventura em Viena. Conversam sobre o que aconteceu naquele meio tempo com os dois e se separam de novo.
No terceiro, o atual, Céline e Jesse finalmente casados, estão na Grécia, de férias com o filho dele do primeiro casamento e as gêmeas, filhas do casal. Os dois estão na faixa dos 40 e as conversas amadureceram.
O filme começa com Jesse levando o filho de13 anos ao aeroporto porque ele tem que voltar para os Estados Unidos onde mora com a mãe.
Essa separação deixa o pai frustrado e Céline vai transformar isso num conflito interno, sentindo-se culpada por privar Jesse da companhia do filho. Mas quando o marido a convida para morar em Chicago, para todos estarem juntos, ela se revolta porque não quer perder sua vida em Paris.
“- Você acendeu a bomba que vai destruir nossa vida. Estamos em contagem regressiva”, diz ela.
Após 18 anos do primeiro encontro, o amor entre eles é dificultado por quase nadas e decisões importantes.
Céline, conversando na cozinha, enquanto ajuda a preparar o almoço entre amigos, conta às mulheres que pensou que a Grécia, milenar e berço das grandes tragédias, poderia ser o cenário de algo terrível na vida dela. Há um clima de suspense se criando.
O casal fala sem parar durante todo o filme. Mas as conversas mais amenas ao ar livre, sob o sol da Grécia, entre as oliveiras e velhas pedras, vão se tornar duras, claustrofóbicas e depressivas quando o casal vai para o quarto de um hotel, onde deveriam se amar. A briga começa na cama.
Um dos temas que aparece é a culpa pelas decisões que eles não tomaram no passado. Claro. Vidas paralelas são muito atraentes porque não foram vividas e podem ser objeto de idealizações românticas.
Já a vida real pede criatividade e paciência para que o amor permaneça vivo. Vale a pena?
É quando mais brigam que Céline e Jesse fazem transparecer o elo sólido que os une. Mas até quando?
Outros casais certamente vão sair do cinema conversando muito sobre o que viram e ouviram. O filme é envolvente e nós nos identificamos com os personagens que tem uma boa química e coragem para enfrentar o que muitos de nós evita, achando que assim protege a relação. Será?

sábado, 8 de junho de 2013

Além do Arco-Íris

“Além do Arco-Íris” – “Au Bout Du Conte”, França 2013
Direção: Agnès Jaoui

Todas as meninas gostam de contos de fadas. Meninos também mas depois preferem os super-heróis dos quadrinhos. Claramente, as crianças procuram modelos para entender o que virá no futuro. Ali há material para sonhar.
Será que é pela mesma razão que os adultos se impressionam com profecias, augúrios, videntes, cartomantes?
É com essas questões que brinca o filme “Além do Arco-Íris”.
A mocinha Laura, na escola onde as crianças se preparam para fazer o espetáculo de fim do ano, conta para tia Marianne, vestida de fada, o sonho que teve com um homem desconhecido que a levava para voar:
“- Nunca amei ninguém como nesse sonho...”
“- Você tem muito tempo para isso”, responde Marianne, “pé no chão”, aflita para chamar a atenção das crianças e fazer com que a peça aconteça.
Já no cemitério, Pierre, homem de meia idade semblante depressivo, enterra o pai. Mas diz que não sente nada.
“- Eu sinto” diz a ex-mulher, “ele sempre foi muito bom com o Sandro”.
O neto Sandro chora mas disfarça quando o pai chega onde ele está. Não se dão bem.
“- Lembra daquela mulher que previu o dia de sua morte?”, diz a ex.
“- Uma louca que fazia horóscopo para todo mundo...” responde Pierre aborrecido.
“- Pode ser... Mas isso marca”, insiste a ex.
Com quem eu vou me casar? Em que dia vou morrer? O amor faz com que a morte seja esquecida? O romantismo é uma fuga da realidade?
Laura (Agathe Bonitzer) e Pierre (Jean- Pierre Bacri) vão viver suas angústias de forma diferente. Estão em etapas distintas da vida. Ela sonhadora, ele desiludido.
Outras histórias vão se cruzar com essas duas.
Assim, Marianne (a diretora de 48 anos, Agnès Jaoui) quer ser livre para ser atriz, o bom rapaz Sandro (Arthur Dupont) quer amar e ser compositor, o “bon vivant” (Benjamin Biolay) quer todas as mulheres do mundo, a menina Nina se agarra na religião porque não quer pensar na separação dos pais. E tem ainda os pais de Laura, o marido de Marianne, a mãe de Sandro e a namorada de Pierre.
Ou seja, muitos personagens, muitas angústias diferentes, muitas situações que se entrelaçam num roteiro que tem pontos altos e baixos. Os roteiristas, Agnès Jaoui e Pierre Bacri, casal na vida real e pais adotivos de duas crianças brasileiras, escreveram roteiros para ninguém menos que Alain Resnais. E ela dirigiu quatro filmes, inclusive “O Gosto dos Outros” (2000), indicado para Oscar de melhor filme estrangeiro. Percebe-se o talento deles nas questões que o filme propõe.
Mas os contos de fada, ancoragem interessante, servem apenas para ilustrar um triângulo amoroso e uma relação mãe/filha, com referências a Branca de Neve, Cinderela, Chapéuzinho Vermelho e A Bela Adormecida. Mas é verdade que contribuem para a estética dos cenários e figurinos do filme, muito originais.
“Além do Arco-Íris” diverte, faz perguntas mas fica faltando uma maior coesão na costura das histórias e no aproveitamento dos contos de fadas.
Talvez seja até de propósito.Temos a mania de querer tudo arrumadinho, digerido, pronto para esquecer. E “Além do Arco-Íris”, cujo titulo original é “No Fim do Conto”, pede para que os espectadores pensem e duvidem de finais felizes estereotipados.
Pode ser uma boa novidade.


sexta-feira, 7 de junho de 2013

"O Grande Gatsby"




“O Grande Gatsby”- “The Great Gatsby”, Estados Unidos/ Austrália 2013
Direção: Baz Luhrmann

Será que sonhos podem tornar-se pesadelos? E alguém pode reviver o passado? O que faz o amor renascer?
Essas são as perguntas que estão no cerne da história contada por F. Scott Fitzgerald (1896-1940) em “O Grande Gatsby”, seu famoso livro de 1926, que já foi vivido no cinema por cinco elencos diferentes e seus diretores. A última adaptação, mais presente na memória das pessoas, tinha Robert Redford e Mia Farrow e foi sucesso de público mas teve críticas mistas.
A nova versão que tem Leonardo DiCaprio e Carey Mulligan é muito diferente das outras. O realizador de “Moulin Rouge!” (2001) recria alguns dos climas vistos ali, no mesmo espírito de fantasia que fez a fama de Baz Luhrmann e marcou a carreira de Nicole Kidman.
O diretor australiano escolheu uma narrativa que vai do conto de fadas ao clima de cabaré e filme “noir”, em uma estética neo-barroca que pode não agradar a mentes mais conservadoras.
A outros, vai justamente divertir porque há uma intenção de acompanhar as artes plásticas contemporâneas, com alusões a caricaturas, quadrinhos e excessos carnavalescos. Os malabarismos com a câmara e o 3D são usados de maneira criativa e ajudam na criação dos estados de alma dos personagens.
A cena que apresenta Daisy Buchanan à plateia é de ficar na memória para sempre: cortinas esvoaçam, um braço emerge do sofá, um diamante perfeito no dedo. É Carey Mulligan, divertida, sestrosa, mimada. Vestida por Prada e Miu Miu com brilhos, rendas, transparências e franjas de cristal, ela encanta com a raposa azul emoldurando seu rosto e jóias no cabelo curto nas cenas da festa na casa de Gatsby.
O narrador e testemunha de todas as reviravoltas da história é Toby Maguire, que faz Nick Carraway, primo de Daisy. Como sempre, Toby Maguire é o excelente ator que ajuda na criação de um clima exagerado em torno aos personagens, todos excessivos.
O marido de Daisy,Tom Buchanan, vivido com brilho por Joel Edgerton, é o herdeiro milionário, presunçoso e preconceituoso, além de egoísta ao extremo. Ele e Daisy são a elite endinheirada que se considera acima das leis e da moral. Dão o tom dos “alucinados anos 20” que antecederam à famosa crise de 29.
Leonardo DiCaprio cria um Jay Gatsby com um charme mais infantil do que Robert Redford mas com nuances depressivas. Está ótimo no papel, expressando bem a mania de grandeza, a inadequação e os delírios do personagem, assim como dá vazão ao seu romantismo e ingenuidade pueris.
Sempre à procura de algo que lhe escapa, Gatsby é uma figura angustiada e maníaca mas também sedutor e atraente. Uma mistura irresistível para o lado mais infantil e aventureiro de Daisy.
Ao som de Gershwin, jazz, “Let’s Misbehave” e a bela canção original “Young and Beautiful” cantada por Lana Del Rey, as cenas vão se desenrolando frenéticas até o momento da tragédia. Aí o ritmo da narrativa muda e a fachada estética não desaparece mas cede lugar a uma realidade mais sombria.
Com tudo isso, “O Grande Gatsby” deve agradar às plateias brasileiras e incentivar a leitura do famoso livro do grande F. Scott Fitzgerald. Eu recomendo.


quarta-feira, 5 de junho de 2013

Elena


“Elena” Brasil, 2011
Direção: Petra Costa

Ela é uma sombra no chão. Filma imagens fugidias. Nelas, procura traduzir uma busca da verdade sobre si mesma.
“- Sonhei com você nessa noite, Elena...”, assim começa seu documentário a diretora Petra Costa, 29 anos.
É um diálogo com a irmã Elena, que vive em sua memória, indagando o porquê daquilo que aconteceu.
Parece que o filme, feito de pedaços de filminhos caseiros, gravações da voz da própria Elena, seus diários e vídeos, depoimentos da mãe das duas e associações que a diretora faz a partir de lembranças afetivas da irmã, vai conseguir salvá-la do mesmo destino trágico.
Colocando em imagens essa história, ela resgata o que de belo e amoroso existia em Elena, que tinha dito para a mãe que tinha um vazio enorme no peito. E que queria morrer.
Então, como são preciosos para Petra, 13 anos mais nova que Elena, esses momentos resgatados nos arquivos da família, onde as duas dançam. Ela, pequena, no colo da irmã. Ou então quando dorme a seu lado, cabeça com cabeça, ela um bebê de chupeta e Elena mocinha de 13 anos.
A mãe é uma referência mútua, a “nossa mãe”, como diz Petra, que narra o filme em “off”. Também ela queria ser atriz, foi militante nos anos da ditadura e separou-se do pai das duas quando Petra tinha 15 anos.
Elena foi para Nova York em 1990, com 20 anos. Queria trabalhar no cinema. Era excessivamente exigente consigo mesma e parece que, apesar de bela e de gostar de dançar, traz nela algo que Petra pressente, que também vê na mãe e se assusta em pensar que não vai saber lidar com aquilo em si mesma.
“- Pouco a pouco você começa a se distanciar”, diz ela para a irmã que não está mais presente.
A bela Elena arrasta consigo aquele vazio que disse sentir no peito e se cobra muito:
“- Se não consigo fazer arte, melhor morrer”, ouve dela a mãe.
Os sinais de fragilidade na existência de Elena vão se compondo numa depressão que Petra não quer explicar, nem viver.
Perder quem se ama é insuportável. Frente a um suicídio, o trabalho de luto longo e doloroso, a culpa que sempre existe contra toda e qualquer evidência em contrário, mas principalmente o medo de ser levada a um mesmo destino, são os temas universais da narrativa de Petra que faz com que uma identificação com ela seja obrigatória.
Parece que a libertação torna-se possível quando Petra consegue inserir-se numa procissão de mulheres levadas e lavadas por uma água transparente, de olhos fechados, pacificadas. Ser humana e mulher é o destino de todas elas.
Petra Costa faz desse diálogo com a irmã morta uma obra comovente e vital, com poderes curativos. Arte serve também para isso. 

domingo, 2 de junho de 2013

Camille Outra Vez


“Camille Outra Vez” - “Camille Redouble”, França 2012
Direção: Noémie Lvovsky

Em pleno filme B, a atriz só serve como uma garganta a ser cortada e sangrar abundantemente.
No camarim, a outra pergunta:
“- Você teve falas?”
“- Argh...” responde ela revirando os olhos.
Camille Vaillant, 40 anos, atriz sem futuro, uma filha de 16 anos, afoga as mágoas no álcool. Seu marido e pai de sua filha, que conheceu quando estavam ainda na escola, vai abandoná-la por outra mais jovem.
Amarga, seu olhar traduz desprezo pelo mundo que a cerca.
Durante os créditos, objetos como cigarros, plumas, brilhos, relógio, palitos de fósforo, sobem e descem na tela num balé em câmara lenta.
Na noite de Ano Novo, ela anda pelas ruas no meio da neve e, a caminho de uma festa, resolve entrar numa relojoaria, estranhamente aberta naquela hora da noite.
E aqui começa a graça desse filme que faz todos se lembrarem de “Peggy Sue - Seu Passado a Espera” de Copolla de 1986.
Mas, apesar de alguns pontos em comum, o filme francês é bem diferente do americano.
Assim, como numa fábula encantada, Jean-Pierre Léaud faz o relojoeiro mágico que abre as portas do tempo para Camille. Ele mexe no relógio dela, parado há muito, presente de seus pais aos 16 anos, quando conheceu o marido, ficou grávida e sua mãe morreu. E consegue tirar de seu dedo o anel, primeiro presente do marido. Esses objetos icônicos vão ser a chave para a volta ao passado.
Na festa de réveillon à fantasia, no meio das amigas do tempo do colégio, dançando uma música da sua adolescência, ela desmaia para acordar num hospital nos anos 80.
O tempo foi para trás. Camille tem 16 anos novamente. E esse é o maior encanto do filme de Noémie Lvovsky, 48 anos, diretora, atriz e co-roteirista de “Camille Outra Vez”.
Ela consegue passar para o espectador essa transformação para adolescente apenas alongando o cabelo e vestindo as roupas cafonas dos anos 80. E Noémie não tem um corpinho de menina.
Mas é o brilho nos olhos e o frescor do sorriso, quando anda em sua bicicleta de menina, que faz o pacto com o espectador. Todos nós nos lembramos de nossa adolescência nos espelhando na animação dela.
Claro que ela vai tentar mudar o futuro que só ela conhece. Mas o tema do filme parece ser a redescoberta do amor. Não só o entre homem e mulher mas também o amor filial.
Pois é com ternura que Camille encara os pais e num ato comovente grava as vozes deles. Essa será a cápsula do tempo que fará com que o passado devolva algo que ela valoriza mais quando volta a ser menina. E ela consegue levar  para o futuro a sua recuperada capacidade de amar.
O elenco, que também não é de adolescentes, convence pelo mesmo motivo que a atriz principal ou seja, não são caricaturas, são eles mesmos, lembrando-se da adolescência.
“Camille Outra Vez” é uma boa comédia francesa e, assim sendo, não consegue ser superficial ou gratuita. Mas também não é um filme de Francis Ford Coppola e portanto, as angústias são vividas com mais leveza e ironia.
Um filme que surpreende e nos envolve, mesmo a contragosto.